Em um domingo desses, estava na chácara em torno de 10 horas da manhã vários de jovens em carros e motos adentraram pelos portões em alta velocidade. Assustados com a bagunça, logo fechamos o portão, mas uma dezena acabou entrando e, depois de muita discussão e ameaças, soubemos que se tratava da caça a um balão.
Chamamos a polícia, que demorou uns 20 minutos para chegar e, nesse meio tempo, o balão caiu – não em nossa chácara, mas em outra. Quando a polícia chegou, ainda havia alguns carros e motos. Os policiais revistaram um dos veículos e nós avisamos que se tratava de jovens que invadiram e até depredaram nossa propriedade. Estranhei que, depois dos policiais iniciarem uma conversa, os jovens mostraram o balão, entraram no carro e foram embora festejando “não deu nada, não deu nada”.
Os policiais, então, entraram no carro e vieram em nossa direção, procurando saber quem tinha chamado. Nós agradecemos a atenção e eles nos disseram: “Não adianta, com essa piazada só podemos levar se forem pegos com o balão” – e se foram.
Essa pequena história demonstra como a autoridade pública trata os pequenos delitos. Nem precisamos falar que soltar balão é crime, invadir propriedade privada sem autorização é crime, depredar propriedade é crime.
Se os pequenos delitos fossem levados a sério, os policiais poderiam ter levado os jovens para a delegacia, apreendido o carro, multado os jovens por participar da soltura de balões, e ainda fazer com que os pais deles fossem à delegacia num domingo pela manhã para que fossem soltos – é claro que depois de uma boa reprimenda nos jovens e nos seus pais.
Com essa atitude, a autoridade policial desencorajaria esses jovens ao delito, pois envolveria suas famílias, ficariam o dia todo enrolados e, certamente, não poderiam comemorar com seus amigos mais uma emoção. Convenhamos, é muita emoção para um domingo de manhã: andar em alta velocidade com os amigos, discutir e até agredir pessoas desavisadas que tentem impedí-los de pegar ou correr atrás do balão, ser abordado por dois policiais de arma em punho, ter o carro revistado e, depois, poder comemorar mais uma aventura. É mesmo muita emoção. Confesso que até fiquei com vontade de ocupar melhor minhas manhãs de domingo, afinal, como já sabemos e não nos cansamos de ouvir, no Brasil “não dá nada mesmo”.
Ademar Batista Pereira – Presidente do Sinepe/PR
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