A educação e a discussão sobre ideologia de gênero

Passamos mais de dois anos discutindo o Plano Nacional de Educação (PNE). Foram realizadas diversas audiências públicas no país, nas esferas local e federal, o que envolveu também inúmeras viagens do relator do projeto, o deputado Angelo Vanhoni (PT-PR). No final saiu uma espécie de monstro de sete cabeças, onde todos tentaram colocar as suas teses e buscaram garantir uma espécie de “quinhao” no que seria o pensamento para a educação do brasileiro dos próximos dez anos. Em meio a toda a discussão, o destaque foi quantos por cento do PIB (Produto Interno Bruto) teríamos que gastar na educação, e depois de dois anos foi garantido 10%.

O PNE também previa diversas etapas, dentre elas uma conferência nacional de avaliação. O evento aconteceu dois meses depois da aprovação ao custo de R$ 100 milhões reunindo movimentos sociais do país inteiro, em Brasília. Agora, estamos na fase das aprovações dos planos municipais e estaduais, e de todos os problemas que envolvem a educação pública brasileira, o assunto principal foi a “ideologia de gênero”.

O que querem esses desocupados que acreditam que educar uma menina é igual educar um menino? Só pode pensar que se deve educar de forma igual quem não tem filhos ou nenhuma noção. Não será tratando os diferente como iguais que diminuiremos o preconceito, seja de gênero, cor, raça ou sexo, como os que defendem que todos sejam sem “sexo” definido.

O preconceito pode e deve ser trabalhado na escola. A fase ideal é no início da segunda infância, dos 5 aos 8 anos de idade, mostrando as diferenças que todos temos, pois numa sociedade como a brasileira o que mais temos são diferenças. A questão da homosexualidade, ou das opções sexuais, somente acontecerão mais tarde, no final da adolescência, onde ao tornar-se adulto o ser humano pode escolher relacionar-se com uma pessoa de sexo diferente ou do mesmo sexo, para relacionamento sexual ou não.

Portanto, estamos perdendo a oportunidade de discutir os reais problemas da educado pública brasileira, como:

A) por que a educação infantil e a primeira etapa do ensino fundamental é de responsabilidade do município e a segunda etapa do fundamental e médio é do estado?
B) quais os custos que o estado tem para manter a sua responsabilidade em pequenos municípios? Só para exemplificar, no Paraná temos 300 municípios com menos de 20 mil habitantes, justifica ter estrutura estadual nesses municípios?
C) por que não se ensina ler, escrever e fazer contas para 50% das nossas crianças até o quinto ano?
D) por que o custo da escola municipal e estadual é maior do que a particular e com resultados piores?
E) por que os professores das escolas públicas precisam de licença para estudar e esta é a melhor perspectiva de carreira dada a eles?
F) por que temos eleição para diretor de escola pública?
G) por que nossa escola pública é tão ruim?

Teríamos uma infinidade de porquês, mas ao invés do responsáveis pelos planos municipais e estaduais discutirem e apontarem o caminho para a educação do país nos próximos anos, ficam discutindo se mulher é diferente de homem, ou se devem ser iguais. É a união dessas diferenças que fará o mundo melhor e mais humano. Será respeitando e aproveitando essas diferenças que teremos a sociedade que sonhamos, educando meninas como meninas e meninos como meninos.

Ademar Batista Pereira – educador, diretor da Escola Atuação.


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