O brasileiro é conhecido por ser conformado por natureza. O que houve, então, para sairmos em manifesto pelas ruas nos últimos dias? O aumento da tarifa? Acho uma justificativa pouco provável. Da última vez que tivemos um movimento dessas proporções foi pelo fim da ditadura e depois com os caras pintadas em nome do impeachment do presidente Collor. Naquele tempo, muitas lideranças e até a própria imprensa chamavam o povo para a grande movimentação.
Agora, após conquistarmos muitos direitos, podemos falar e escrever o que quisermos. Por parte do governo e do modelo democrático de gestão vimos a criação de diversas bolsas-auxílio, aumento do crédito para compras, os impostos parecem ter diminuído para aumentar as vendas e o consumo. Mas, então, por que protestamos? Tenho um palpite: as pessoas estão se dando conta que o modelo de gestão pública do nosso país está falido.
Neste modelo de democrático que vivemos, pagamos impostos nos municípios e o dinheiro vai todo para Brasília para o governo central definir o que é melhor para o Brasil. Este mesmo modelo permite que cada governante eleito – seja presidente, governador ou prefeito – não poupe recursos para cargos de confiança, mordomias, etc. Neste caso, a conta não fecha e aí faltam recursos para a saúde, educação e segurança.
Esse modelo de democracia faz dos políticos eleitos donos de seus mandatos. Ao povo que os elegeu não sobram grandes recursos para tirá-los do poder. Podemos comparar a administração dos 5 mil municípios brasileiros a administração de um condomínio e, logo veremos que os números não fazem muito sentido. Com um prefeito e 9 vereadores que recebem salários incompatíveis com a média de salário da sua cidade e que colocam em seus gabinetes amigos e parentes, faltam recursos para manter o básico.
Sobra burocracia e incompetência e falta o mínimo de cuidado com o dinheiro público. Trata-se de um modelo de gestão pública que penaliza o empresário, que não oferece um mínimo de qualidade em qualquer serviço, especialmente nos mais essenciais, como saúde, educação e segurança. Sim, precisamos mudar o modelo, mas por onde começar?
Devemos começar por:
A) alterar a lei de organização de partidos, para que o partido seja organizado nas bases. Que não exista mais a executiva provisória nos partidos, que todas sejam executivas eleitas e com mandato, das municipais a nacional, alterando a ordem de formação: as municipais elegem a estadual, as estaduais elegem a nacional.
B) fazer uma reforma fiscal, em que a maioria dos recursos arrecadados fiquem nos municípios, redistribuindo as funções.
C) reforma política com voto distrital, não permitindo mais de duas eleições para o mesmo cargo no legislativo.
D) limitar o número de vereadores e cargos de confiança nas diversas esferas do governo, especialmente nos pequenos municípios.
Ademar Batista Pereira – Diretor da Escola Atuação, presidente da FEPEsul (Federação dos Estabelecimentos Particulares de Ensino da Região Sul) e articulista do site www.esominhaopiniao.com.br.
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