Casos de suicídio abalam toda a sociedade, é como se o tempo parasse e começam os porquês. “E se?”, “O que faltou ou está faltando?”. E o inevitável: buscamos culpados. Mas o que fica é uma questão profunda, o que leva um jovem a ceifar a própria vida, se a sociedade luta incessantemente para proteger e prolongá-la?
A notícia do suicídio dos dois adolescentes que estudavam em um mesmo Colégio de renome da capital de São Paulo, acompanhada de informações de outros casos em vários estados, traz à tona uma preocupação sobre como estamos vendo nossas crianças e adolescentes. Ou, como não estamos vendo.
As preocupações invadem as famílias e, consequentemente, a grande família que forma a comunidade educacional. Nesse sentido, a FENEP – Federação Nacional das Escolas Particulares, representante das mais de 40 mil escolas particulares brasileiras, ciente da grande participação para a educação e ensino dos mais de 15 milhões de crianças e jovens brasileiros, se solidariza com a família e a comunidade escolar brasileira.
Temos chamado a atenção para a necessidade de reflexão da realidade de nossa sociedade, observando aspectos que permeiam a vida dos jovens. São cobranças excessivas (ou a ausência delas), exigências de superação, relações fantasiosas e superficiais, a valorização do ter e não do ser, amizades meramente virtuais, e tantos outros problemas da vida contemporânea de nossos jovens que acabam gerando consequências perturbadoras.
A escola aborda como tema transversal em sua proposta pedagógica um dos assuntos mais atordoantes e que deixam a sociedade vulnerável: a violência social do mundo contemporâneo em todas as suas vertentes e formas mais cruéis. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) também traz indicações importantes de um trabalho nessa área, ao apontar as competências gerais que devem ser desenvolvidas, como: conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
É preciso exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade dos indivíduos e dos grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
No contexto escolar, os profissionais de educação podem e devem fomentar a discussão e a reflexão a respeito da sociedade que vivemos, que cidadãos formamos, e o que é a tão sonhada felicidade, tanto no âmbito social, como para cada indivíduo. Porém não podemos resumir a complexidade da formação humana, que é um processo que se inicia ao nascer e termina ao morrer, como responsabilidade exclusiva da escola. Reconhecemos que esta pode e vem fazendo um grande enfrentamento na formação de valores, de respeito às leis, às normas, às pessoas e especialmente à vida. A escola particular enfrenta todos os dias a sua tarefa de ajudar a sociedade a educar as próximas gerações. Mas a sociedade precisa ter clareza do papel de cada ente social. E o início disso se dá com as pessoas reconhecendo o que precisam e a responsabilidade que cabe a cada um, mas muitas vezes, a escola parece estar sozinha nesse papel.
Ademar Batista Pereira
Presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (FENEP)
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