A reforma do Fies e a ameaça à democratização do Ensino Superior

Os últimos indicadores da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que o Brasil ainda está longe de ocupar uma posição satisfatória em relação ao desenvolvimento educacional do País. Em um ranking de 70 países, o Brasil ocupa os últimos lugares na avaliação do Pisa 2015 (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), que pesquisou o desempenho em leitura, ciências e matemática, e no qual ficamos na 59ª, 63ª e 65ª posições, respectivamente, sendo o último país da América Latina nesta lista. Os dados reforçam que o desempenho dos alunos no Brasil está abaixo da média de outros países da OCDE. Precisamos fazer com que os investimentos em educação sejam convertidos em melhores resultados na aprendizagem dos estudantes! Sem melhorar o básico, continuamos dificultando a vida dos jovens que almejam entrar no Ensino Superior e sonham com um futuro melhor!

E é neste contexto, que vemos o Governo editar uma Medida Provisória que visa reformar o principal instrumento de política pública de acesso ao ensino superior, o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil). Entretanto, o relatório da Medida Provisória nº 785/2017, que foi aprovado na semana passada na Comissão Especial do Congresso, não amplia a democratização do acesso, pois conta com mudanças meramente focadas no ajuste fiscal e econômico do Governo. O texto deve ser votado no plenário da Câmara nas próximas semanas, já que a MP expira no próximo mês. A situação preocupa, pois, ainda segundo a OCDE, no relatório “Educação: trampolim para o emprego”, o Brasil é apontando em última posição, em um ranking de 35 países, com o menor índice de população com nível superior completo, além de ser o terceiro pior na lista dos que completam o nível médio.

É verdade que a matéria, que segue para aprovação em plenário, traz alguns avanços, como a possibilidade de quitar o financiamento com recursos do FGTS, de poder ser usado por alunos com bolsa parcial, e ser resgatado para pagamento de cursos de pós graduação e ensino técnico. Mas os critérios de adesão ainda deixam muito a desejar, e limita o acesso.

O Brasil tem uma história de ineficiência e desperdício de recursos na educação superior. Vale ressaltar que o custo médio de um aluno na universidade pública, passa de R$40.000,00 por ano. Ou seja mais de R$3.500,00 por mês por aluno, numa média de todos os cursos. Tais custos por aluno são parecidos com o da França, mas com resultados bem inferiores. Além de ser mais que o dobro da média dos preços das IES privadas, as universidades públicas e gratuitas são para quem pode pagar. Ou seja, perpetuamos uma realidade em que as universidades públicas são frequentadas, em geral, pelas elites e seus filhos. E mais uma vez, o Governo deixa de fazer seu papel nas ações e políticas de combate à desigualdade social, transferência de renda e mobilidade social.

Sabemos que para as classes menos abastadas, oriundas das escolas públicas da educação básica, resta buscar uma bolsa nas instituições privadas através dos programas sociais, como o Fies e o PROUNI. Muitos se desdobram trabalhando durante o dia para pagar as faculdades que cursam à noite. E, o que mais temos visto, com a crise econômica, são alunos tendo de trancar seus cursos porque perderam seus empregos.

A vida desses jovens poderia ser menos difícil se o Governo tornasse o Fies um programa mais simples, acessível e economicamente sustentável. Precisamos pensar em critérios melhores e mais justos para que os estudantes possam obter o financiamento, como a nota do Enem, capacidade de pagamento, etc. Temos de pensar em mais incentivo para cursos de licenciatura, bolsas de financiamento para alunos exemplares e para aqueles que prestam serviços à sociedade. O financiamento poderia se dar em forma de uma carta de crédito, por exemplo. O estudante receberia para sacar em 4 ou 5 anos a partir do início do curso, na instituição de ensino e curso de sua escolha, com liberação mensal conforme o serviço educacional fosse prestado. Caso o aluno resolvesse mudar de faculdade, levaria o restante do seu crédito para a escola ou curso escolhido. As IES teriam que trabalhar com e para os alunos e menos para o governo.

Enfim, é preciso pensar em soluções que facilitem o acesso ao mesmo tempo em que mantenham a viabilidade do Fies. É preciso descomplicar o futuro dos nossos jovens!

Por Ademar Pereira – Presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares


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