Não paramos no século 19: a escola que temos e a que queremos

No Brasil, temos observado com frequência, a exposição de alguns especialistas e teóricos que insistem em afirmar que a escola brasileira está parada no século 19, que repete o modelo industrial com carteiras enfileiradas, quadro de giz, mas que deseja desenvolver pessoas para o século 21.

Muitas vezes, basta ouvir um programa de rádio ou televisão que esteja debatendo Educação, que ouvimos críticas superficiais, com generalizações que muitas vezes não condizem com a vivência e a opinião de qualquer educador que conheça a realidade da escola, seu dia-a-dia, suas dificuldades e desafios.

É verdade que temos muitas escolas públicas com pouca ou nenhuma estrutura física, sucateada, com goteiras, lâmpadas e vidros quebrados, e que muitas tem problemas de segurança, inclusive. Mas temos de reconhecer que esta não é uma realidade da escola particular, que em geral, possui uma gestão mais eficiente e focada no aprendizado e desenvolvimento dos seus alunos. A escola particular tem estruturas melhores e diversas (como diverso é o Brasil). Trata-se de um setor altamente competitivo, com mais de 40 mil escolas particulares no Brasil, da educação infantil ao ensino superior.

Ao debater a Educação, precisamos analisar qual é realmente o papel da escola na formação de um povo. Como se faz em lugares onde a educação dá certo? Qual é a formação que as pessoas precisam atualmente, em um mundo globalizado, e daqui a 20 anos? Sempre que faço essas perguntas, costumo perceber um certo espanto no olhar das pessoas. Em um mundo repleto de tecnologia, sedentarismo, pouco esforço e limite (ou nenhum), o que realmente é importante para uma vida saudável e produtiva hoje e no futuro? Posso afirmar que é, e será necessário saber ler, interpretar, escrever e fazer contas, saber respeitar o próximo e as diversidades, as regras, os horários, ter espírito crítico, separar o que importa de um mundo de informações disponível a todos, além de aprender a fazer o que precisa ser feito, não apenas o que se gosta. Pois hoje, e daqui a 20 anos, tenho certeza, que quem tiver essas habilidades, saberá aproveitar as oportunidades, e poderá viver melhor.

Para tanto, a Educação brasileira carece mais de foco, de aprimorar o básico, não pode se esquecer de que o desenvolvimento de uma nação começa pela leitura e escrita, e o desenvolvimento de valores. Algo simples e que para isso, o que se faz necessário não são investimentos mirabolantes em estrutura e tecnologia. Obviamente que não estou aqui dizendo que uma escola estruturada com computadores, acesso à banda larga, ginásios cobertos, etc, não sejam importantes para a educação, mas esse não é o ponto determinante. É uma questão de equilíbrio entre tais aspectos. Percebemos que gastando o tempo e energia da sociedade com exageros de modismos de novas tecnologias e sistemas, estamos nos iludindo na busca por atalhos. Repito que precisamos fazer bem o básico.

Além disso, vale mencionar que, no Brasil, ainda é alto o número de analfabetos funcionais, ou seja, aquelas pessoas que, apesar de terem acesso à escola, não conseguem ler e escrever de forma a dar ou extrair sentido de palavras, números e ideias.

Então, ao investir apenas em tecnologia, sem antes melhorarmos o básico, formamos meros usuários de tecnologias, mas não desenvolvemos uma sociedade protagonista para o mundo da informação. Ou seja, colocar tecnologias em escolas que não ensinam a ler e escrever, é pior. E ao tratar das escolas privadas brasileiras, acredito que temos sempre prezado pela eficiência pedagógica, na oferta de boas estruturas e custos, focando na formação de nossos alunos para o mundo globalizado.

Ademar Pereira – Presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares


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