A diferença está na gestão. Será?

Acompanhamos, diariamente, as escolas brasileiras sendo rechaçadas pela opinião pública por conta de problemas que acontecem em função de uma má gestão ou da falta dela. Por isso, é preciso esclarecer algumas questões.

Escrevo aqui como gestora de uma escola particular e busco fazer um paralelo com a situação da escola pública que nos vem sendo transmitida pela mídia. Antes de falarmos dos problemas, é preciso levar em conta uma informação muito importante: o custo de um aluno da rede particular é praticamente igual ao custo de um aluno da rede pública. Então, para termos uma média de valores, basta calcular o valor que um estado ou cidade gasta com educação versus o número de alunos que a mesma tem.

Desde o início do ano, as escolas da rede pública vêm enfrentando problemas e já davam indícios de que não estariam em ordem para o pleno funcionamento na volta às aulas. Enquanto isso, escolas particulares estavam com tudo organizado e impecavelmente planejado para receber seus alunos. Será então que devemos pensar na gestão financeira como sendo o grande X da questão? Ou a culpa pode estar também na gestão de pessoas ou na gestão de processos e projetos?

Precisamos agir contra a questão da desorganização infernal existente nos departamentos públicos, a começar pelo setor educacional. Não é possível que o tanto de impostos que pagamos não reflita em nenhum resultado. Uma possível saída seria destituir a estabilidade. Assim, se o problema estiver nas pessoas, a permanência no cargo dependeria de dedicação, esforço, trabalho e resultados. É claro que não podemos generalizar, mas a estabilidade gera profissionais preguiçosos, desestimulados e que podem estar ocupando o lugar de quem realmente gostaria/poderia fazer a diferença dentro das escolas.

Passando para a questão estrutural…como explicar a falta de banheiros em condições de uso em muitas escolas públicas? Se os próprios alunos estragam ou danificam, quer dizer que falta educação dentro de casa, falta disciplina rígida dentro da escola – o que é compreensível, já que, com as novas leis, as instituições ficam de mãos atadas. Como tudo é passível de processo, professores, diretores e auxiliares se negam a educar por conta do medo de represálias.

É notório que tudo está errado, e afirmo que precisamos mover uma grande guerra contra a situação, que é revoltante. Com todas essas barbaridades que vemos na mídia, todos concluem que o problemas é o professor, mas não é! O maior problema reside na falta da educação que deveria ser transmitida pelas famílias e em nossa maneira de gerir e de resolver questões.

A culpa que recai na formação do professor é um ledo engano, basta examinar a formação de outros profissionais. Hoje, se temos que fazer uma cirurgia, temos medo de ouvir a opinião de um só médico e vamos em busca de mais informações e outros pareceres – afinal, vai que ele quer apenas ganhar dinheiro conosco. Se precisamos construir uma casa, pedimos orçamento a dois ou mais engenheiros, como receio de sermos enganados. Estamos vivenciando um processo de deterioração de todas as profissões, mas a culpa recai sempre no professor. Enquanto a escola trabalha a formação continuada, o que os outros profissionais fazem para ficar antenados aos problemas e às modificações que o mundo traz? É interessante pensar sobre isso.

Acredito sim que a culpa seja de todos nós, brasileiros. Na educação, estamos em um momento frágil, de muito sofrimento. Os resultados do Pisa e do Enem evidenciam o problema. E isso por conta da falta de gestão, de seriedade e de ética na vontade de fazer diferente e melhorar. É uma pena, e um caminho sem volta.

Como resgatar o prazer pela aprendizagem dessa maneira? Levando em conta que o cenário conta com milhares de analfabetos funcionais e analfabetos em interpretação, que erram inclusive na escolha de seus governantes. Ao que parece, o governo é feliz por ter uma população ignorante, que não discrimina os roubos e falcatruas que acontecem, sem condições de separar o trigo do joio.

As escolas são o último reduto da verdade e da ética. Mas, para que elas funcionem, o professor precisa voltar para sala de aula, mesmo que ela esteja caindo aos pedaços. Afinal, a educação pode ser encontrada em qualquer lugar, até mesmo na sombra de uma árvore. Basta querer.

Esther Cristina Pereira é psicopedagoga, diretora da Escola Atuação
e vice-presidente do Sinepe/PR.


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